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"A Igreja pouco faz e pouco deixa fazer", é a opinião de João Pinhal de Sesimbra

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"A Igreja pouco faz e pouco deixa fazer", é a opinião de João Pinhal, de Sesimbra

[28.04.2023]
Neste concurso mensal de opiniões, João Pinhal, do AE de Sampaio, mostra que os assuntos de outros também são com ele.

Natália Faria escreveu «Bispos vão analisar lista de padres abusadores “nome a nome”, mas não garantem afastamento», publicado a 3 de março de 2023. Este trabalho motivou o aluno João Miguel Rodrigues Pinhal, do 12.º ano do Agrupamento de Escolas de Sampaio, a escrever o seu texto de opinião para participar, em março, no concurso "Isto também é comigo!".

Esse texto, que agora publicamos, foi distinguido pelo júri, composto por: Cláudia Sá, professora de Português e coordenadora do Clube de Jornalismo da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende, Gustavo Pereira, aluno do AE de Águas Santas, Carla Fernandes, da Rede de Bibliotecas Escolares, e a jornalista do Público Carolina Franco.

Este concurso, mensal, é uma Iniciativa do PÚBLICO na Escola e da Rede de Bibliotecas Escolares (consultar regras de participação).

Foto de Joaquim Faria
 
 

A Igreja pouco faz e pouco deixa fazer

O mês da vergonha acabou. Não obstante, a imoralidade da Igreja Católica portuguesa sobrevive e a resposta da sociedade permanece insuficiente perante a monstruosidade a que foram sujeitas as vítimas de uma instituição que, em vez de as salvaguardar, teima em proteger deliberadamente os alegados agressores. Sim, infelizmente, é tão simples quanto isto. Como o PÚBLICO noticiou a 3 de março, José Ornelas ousou considerar pouco plausíveis os dados revelados, que eram, porém, fruto de um trabalho de investigação rigoroso. Defendendo-se com questões jurídicas, a Igreja deixou não sei onde aquilo que tanto apregoa: a moralidade.

O que faz a instituição para honrar as vítimas do passado e evitar que outras engrossem a lista no futuro? Afastar suspeitos ou indemnizar vítimas? Não. Recorre a insensíveis palavras para defender a maculada Igreja. É assim que procede Manuel Clemente. Será para ele uma inóspita ideia oferecer aos mais jovens Educação Sexual? Sim: o cardeal-patriarca assinou, em 2020, um manifesto contra a obrigatoriedade da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Não quer, assim, que as crianças e os adolescentes sejam sensibilizados para a necessidade de compreender e denunciar abusos e de ter a consciência de que qualquer ato sexual sem consentimento é crime, seja com menores ou com adultos. Manuel Clemente deixa, desta forma, a proteçãode crianças ser, ignobilmente, ultrapassada em importância pela indecência que será, para a Igreja, falar sobre sexo.

Em comunicado à imprensa, em junho de 2022, o partido de André Ventura, católico radical, considera “atentatório dos princípios elementares da liberdade” o caráter obrigatório da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. Promover direitos humanos e construir uma sociedade ativa destrói a liberdade de quem? In extremis, evita que partidos profundamente perigosos para as liberdades cívicas alcancem o poder.

Os autoproclamados guerreiros contra a pedofilia em vez de a combaterem, perpetuam-na com populismos desbragados e ineficazes. A Igreja pouco faz e pouco deixa fazer. Ironia das ironias é, em agosto, ir dar uma festa com a sua mais alta figura hierárquica para celebrar a juventude. Qual? Aquela que não protegem, nem deixamque seja protegida em nome de dogmas religiosos subversivos da dignidade humana?

Pois, é essa mesmo

João Miguel Rodrigues Pinhal
Agrupamento de Escolas de Sampaio, Sesimbra
12.ºano
 

 

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