Uma história de arrepiar

Olá, eu sou a Lisa e esta é a história de como eu... Bem, esperem até ao fim para ver.

Então, antes de começar a falar de tudo o que se passou no dia 18 dezembro, vou contar-vos um pouco da minha vida, que não é tão simples como a dos meus amigos.

Com apenas 5 anos, mudei-me de Paris para Portugal porque os meus pais tiveram uma oportunidade única de trabalho e eu teria de ficar sozinha em casa todos os dias. Por isso, passei a morar em Portugal com os meus avós. Vivi com eles até aos dez anos, altura em que o meu avô teve um enfarte. Essa foi certamente a pior noite da minha vida. Depois disso, passei a viver sozinha com a minha avó e com o seu cão. Desde essa altura que os meus pais vêm visitar-nos muitas vezes, enviam dinheiro para o meu sustento à minha avó e, uma semana por ano, levam-nos a conhecer um país diferente, que nunca sabemos qual é até ao dia da viagem. Por vezes, também me enviam mini prendas, e a melhor que já recebi foi um livro de vampiros e lobisomens e também um kit de cristais e incensos, para ativar a minha espiritualidade.

Ok, vou parar de enrolar e passar ao que interessa.

Estávamos a 18 de dezembro de 2019, era o dia do aniversário de falecimento do meu avô. Normalmente a minha avó ia ao cemitério mas, dessa vez, pediu-me para eu ir porque ela ia ser operada a uma perna e tinha de ser hospitalizada. Acedi. Reuni velas, flores, santinhos e tudo o que havia de útil na caixa da minha avó, e ainda uma boa dose de coragem porque não gostava de ir ao cemitério, desci as escadas e lá fui eu com todas aquelas coisas, às 4:25 da tarde, visitar a campa do meu avô.

Quando lá cheguei, o funcionário da entrada avisou-me que, daí a 20 minutos, o cemitério encerraria e eu respondi-lhe que não ia demorar mais do que 10 minutos (pensava eu!). Cheguei ao sítio onde a sepultura do meu avô estava, acendi as velinhas, repus as flores, limpei tudo, e rezei um Pai Nosso e uma Avé Maria pela sua alma. Depois despedi-me do meu avô e dirigi-me para a saída, desejosa de fugir dali.

No entanto, quando lá cheguei, encontrei o portão fechado e um aviso que dizia: “Tive de me ir embora mais cedo, fechei a porta para mais ninguém entrar, aqui tens as chaves para abrires a porta para saires”.

Fiquei apavorada porque eu não sou nada boa com fechaduras, e bem que tinha razões para o pânico porque, após mais de dez tentativas, não consegui abrir o portão. Sentei-me, desesperada, para tentar alguma serenidade e analisar bem a situação em que me encontrava quando, de repente, vi um pequeno vulto a passar rapidamente mesmo à minha frente. Nesse momento, passei-me. Completamente em pânico, agarrei no telefone, que estava apenas com quinze por cento de bateria e liguei para os bombeiros, numa tentativa desesperada de sair dali. Mas ah, maior azar do mundo, nem rede havia naquele sítio horrível! Restava-me, pois, que alguém desse pela minha falta e me viesse salvar, mas eu tinha perfeita noção de que o único ser que poderia dar pela minha falta, pois teria fome à hora do jantar, seria o cão da minha avó!

Foi então que pensei em pular os muros do cemitério. Fui buscar uma escada que estava mesmo ali ao pé e comecei a subir, mas depressa percebi que a intenção era boa, mas que não daria frutos, pois a escada media apenas cerca de quatro metros do total de seis metros que o muro aparentava ter.

Repentinamente, ouvi então um pequeno riso vindo sabe-se lá de onde. Que medo senti! Procurei distrair-me, recusando-me a pensar. Agarrei com toda a força num livro que tinha na mala e tentei ler. Era o último livro de vampiros e lobisomens que os meus pais me tinham enviado, do qual gostava bastante, e a verdade é que me entreteve tanto que adormeci ali mesmo naquele pequeno canto.

Era inverno e os dias escureciam muito cedo, portanto às 6.30 da tarde já não se via quase nada na rua. Acordei algum tempo depois, sobressaltada, com o que pareceu um toque no meu ombro direito. No início, achei que eram coisas da minha cabeça, provocadas por aquela terrível situação de stress que estava a viver, mas rapidamente compreendi que tudo o que se estava a passar era real. Levantei-me ao ouvir ranger um portão do lado oposto àquele em que eu estava. Alguém vinha para me salvar, pensei eu, finalmente! Corri na direção do mesmo e, quando lá cheguei, encontrei-o encerrado.

Ao olhar para o lado, vi novamente vultos. Dei um salto, mas contive o pavor e aproximei-me, na completa escuridão daquele cemitério. Eram dois rapazes. Pareciam ter entre dezasseis e dezassete anos. Assim que me viram, aproximaram-se de mim e eu, assustadíssima, como antes nunca havia estado na vida, perguntei-lhes quem eram e o que faziam ali. Responderam--me: “Não te assustes, nós vamos tratar de ti. Estamos aqui todos os dias, andamos sempre por aqui, fazemos compras, andamos de skate e encontramo-nos com amigos, este sítio é o melhor de todos, pois podemos alimentar-nos e até fazer asneiras e ninguém nota.”, começando a rir. Eles tinham dito aquilo com um evidente ar de gozo, que me perturbou e me fez achar que me poderiam raptar. Vi então que olhavam fixamente para o meu livro. Acabaram por dizer em uníssono: “AHAHAHA,  acreditas mesmo no que está aí escrito? Acredita que nada do que está aí é real!”. Com um simples mover de mãos, um dos rapazes tirou-me o livro das mãos e começou a ler várias citações do livro, entre elas “a rivalidade entre os lobisomens e os vampiros está cada vez maior”. À medida que liam as citações, riam-se imenso, como se estivessem a ler a maior asneira do mundo. De repente, fartei-me e gritei-lhes que se calassem. Foi aí que os olhos deles mudaram de cor, o mais velho ficou com olhos vermelhos e o mais novo com olhos amarelos. Nesse momento, percebi que um deles era um vampiro e o outro um lobisomem. Afinal, uma coisa naquele livro estava certa e era logo uma das primeiras frases que dizia que “quando ficam chateados ou perturbados a sua cor dos olhos muda”. Nesse exato momento, comecei a correr desesperada. E sabem o que mais? Eles começaram a correr atrás de mim!

Corri, corri, corri e, quando olhei para trás, vi que já não estavam atrás de mim. Suspirei, aliviada, até os encontrar justamente à minha frente. O meu susto foi  tão grande que tropecei e caí numa cova que eles próprios tinham escavado, não sei porquê. Bati com a cabeça numa pedra e fiquei inconsciente durante um tempo que nunca poderei adivinhar.

Quando voltei a acordar, estava rodeada de muitas pessoas - bombeiros, polícia, o funcionário da entrada que me deixara as chaves, repórteres, o meu grupo de amigas e até um padre. Estava efetivamente muita gente à minha volta, mas eles não. Onde estariam os rapazes que encontrara na noite anterior?...

Todos me olhavam com olhares preocupados, surpreendidos e alguns até com pena, mas ninguém me respondia, ninguém sequer percebia a minha inquietação interior. De qualquer forma, ajudaram-me a sair dali, levaram-me ao hospital onde fui tratada e acarinhada pela minha avó, que achou ter sido apenas um sonho, já que eu sofria de sonambulismo como a minha mãe, por isso, explicou ela, é que eu caíra naquela cova.

Sem acreditar no que estava a ouvir, mas desejosa de encontrar alguma paz e serenidade, regressei a casa, dei comida ao cão e fui-me deitar na cama da minha avó, pois o seu quarto era o que tinha menos luz, e eu precisava de estar no silêncio e na escuridão. Quando me deitei, algo caiu de uma prateleira da estante. Vi que era um álbum de fotos. Apressei-me a abri-lo e, de repente, inexplicavelmente, encontrei uma foto da minha avó, ainda muito jovem, com dois rapazes ao seu lado. Já estão a compreender o meu drama? Sim, eram os rapazes da noite anterior, iguaizinhos! Na foto estava a seguinte mensagem: “Havemos de nos encontrar em breve! Brian e Leo”.  Foi então que percebi que eu estava certa, o que se passara na noite anterior não era, de todo, fruto da minha imaginação fértil, mas sim algo bem real. Fui a correr buscar a minha mala, que deixara no sofá da sala, para encontrar o meu livro. Abri-o e apanhei o maior choque da minha vida: todas as páginas estavam riscadas e lá dentro estava um bilhete com a mesma mensagem da foto: “ Havemos de nos encontrar em breve! Brian e Leo”.

Bem, que loucura, não acham?

Naquele momento, só conseguia pensar em voltar àquele sítio tenebroso para procurar novamente aqueles estranhos rapazes. Queria que me explicassem tim tim por tim tim o que estava a acontecer… mas será que, numa próxima vez, sairia de lá com vida?

Lara do Ó
AE Professora Paula Nogueira, Olhão

 

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