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Entrevista de Beatriz Costa e Beatriz Teixeira ao escritor João Manuel Ribeiro vence

Alunas vencedoras frequentam o 9.º ano no Agrupamento de Escolas Sophia de Mello Breyner, em Arcozelo, Vila Nova de Gaia.

“Jornalistas em Rede” é um concurso promovido pelo PÚBLICO na Escola e a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) e destinado aos alunos do 3º ciclo do ensino básico. Em cada ano letivo, atribui dois prémios: à melhor entrevista e à melhor reportagem. Os trabalhos a concurso foram apreciados por um júri do qual fizeram parte as jornalistas Bárbara Simões e Cláudia Lobo, pelo PÚBLICO na Escola; e Carla Fernandes, elemento da equipa do Gabinete Coordenador da RBE.

“Os sentidos são uma fonte de inspiração. Estou sempre com as antenas no ar”

O escritor João Manuel Ribeiro percebeu, desde muito pequenino, que “tinha licença para pôr as histórias de pernas para o ar” e que podia contá-las “ao contrário”.

Entrevista de Beatriz Costa e Beatriz Teixeira

João Manuel Ribeiro
João Manuel Ribeiro, fotografado, na Biblioteca Escolar Sophia de Mello Breyner, por Beatriz Teixeira. 

João Manuel Ribeiro começou a sua carreira como jornalista, mas depois dedicou-se à escrita, nomeadamente de contos e poesia, e é conhecido, sobretudo, por escrever para crianças e jovens. Gosta de explorar o mundo da infância e adolescência, tentando sempre conectar-se e aproximar-se dos jovens leitores. Recebeu um prémio pelo livro Meu Avô, Rei de Coisa Pouca. 

Nesta entrevista, o escritor João Manuel Ribeiro fala sobre isto e muito mais. Se gostas de saber o que está por trás dos livros e como um escritor pensa e cria as suas histórias, esta conversa é para ti.

O que o fez ser escritor?

Eu acho que sou escritor fundamentalmente por causa de duas pessoas: por causa do meu avô e da minha professora. Por causa do meu avô, pois quando eu era pequeno, os meus pais trabalhavam todo o dia e, portanto, desde o dia em que nasci até ao dia em que entrei para a escola estive com os meus avós.

Se a minha avó era muito discreta e caladita, o meu avô era, pelo contrário, um espalha-brasas. Ele gostava de cantar, contar histórias e anedotas e tinha muitas brincadeiras. Lembro-me de ser muito pequeno e o meu avô me sentar ao colo e me contar histórias. E lembro-me de ele reinventar histórias para mim. Por exemplo, contou-me a história da “Branca de Neve e os 7 anões” e a seguir a história da “Preta de carvão e os 7 tições”. Parece uma brincadeira, mas isto é muito significativo, porque desde muito pequenino percebi que tinha licença para pôr as histórias de pernas para o ar e que podia contar as histórias ao contrário.

Outra coisa que eu aprendi com o meu avô foi que as palavras têm um som. Por isso é que há uma simbiose, um casamento perfeito entre as palavras e a música ou a música e as palavras, porque as palavras têm dentro de si música.

Quando cheguei à escola, a minha professora percebeu que eu gostava de brincar com as palavras e, então, foi puxando por mim, foi-me estimulando, e comecei a ganhar o gosto por privar de perto com as palavras. As palavras são uma matéria-prima de que nós precisamos de cuidar bem. Se cuidarmos bem das palavras, produzimos bons textos. Se não cuidarmos bem das palavras, os textos podem ser equívocos.

Depois, também acho que tive a sorte de apanhar bons professores, que sempre me incentivaram a ler e a escrever, porque, para quem escreve, ler é muito importante.

Eu costumo dizer por brincadeira que a melhor oficina de escrita criativa se chama leitura porque, quando leio o livro, percebo e gosto de perceber como é que o autor escreveu e organizou a trama e o enredo… Estou a tomar contacto com uma realidade que depois posso replicar.

Como é que se sente ao ser escritor?

Sinto-me bem. Costumo dizer que não escrevo para publicar, mas porque me dá prazer. Acho que não há dia nenhum que eu passe sem escrever alguma coisa. Ainda que seja um pensamento, uma frase, um apontamento diarístico, todos os dias tenho de escrever. 

A sua inspiração é o seu avô, como já referiu…

Sim, diria que é a origem. Digo muitas vezes que vou buscar a inspiração fundamentalmente a dois lugares. Em primeiro lugar, aquilo que eu vejo, penso, oiço, sinto, que eu toco… portanto, os sentidos… são uma fonte de inspiração. Estou sempre com as antenas no ar.  A segunda inspiração é aquilo que leio. Nos livros, as ideias são como as cerejas: eu leio um livro e, às vezes, daquilo que leio, surge uma ideia ou oposta ou contrária ou parecida para alguma coisa.

Quantos livros já escreveu? E quais são os seus maiores sucessos?

Sabes que há uma diferença entre escrever e publicar. Escrever, escrevi muitos. Tenho lá muitos, em casa. Publicar, publiquei até hoje 60 livros.  
O livro que mais sucesso internacional teve foi Meu Avô, Rei de Coisa Pouca. É o meu livro mais traduzido. Internamente, o livro mais bem sucedido foi o livro de poemas, chamado Poemas para brincalhar. Esse vendeu bastante.  

E qual é o porquê de o seu livro Meu Avô, Rei de Coisa Pouca, ser tão importante para si?

Porque é uma autobiografia, é um livro em que eu conto a história de infância com o meu avô, que é uma pessoa com grande significado afetivo para mim. E quando tu escreves sobre alguém que amas, de quem tu gostas, com o qual te identificas, é muito mais fácil escrever e, de certo modo, icónico e torna-se um símbolo. Às vezes, costumo dizer a brincar que, se eu tivesse só esse livro, já valeria a pena ter publicado.

Qual é o seu tipo de livro preferido?

Eu gosto sobretudo de livros que sejam poéticos, gosto de poesia.

Sempre escreveu para crianças?

Sim, praticamente não escrevo para outras pessoas. De vez em quando, publico poesia para adultos, mas é uma coisa esporádica e residual. Sabes que uma das experiências que o meu livro Meu Avô, Rei de Coisa Pouca me proporcionou foi descobrir que afinal não escrevo para crianças, escrevo para leitores. É verdade que quando estamos no ato de escrever, o leitor ideal que eu tenho na mente é um leitor determinado, concreto. Quando escrevo determinada obra, escolho o tipo de leitor para quem aquela obra está a ser escrita, mas isso não impede que os adultos leiam. Imensos adultos leram a minha obra Meu Avô, Rei de Coisa Pouca, ou porque eram avós ou porque eram pais em vias de ser avós e identificavam-se com a obra – portanto, no ato de escrever, escrevo para leitores.

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